1 Imagem, 140 Caracteres # 241
Hoje o dia amanheceu em festa no céu e em meu coração pois o senhor se preocupa se recebo amor cá na Terra!
I
Seu nascimento foi ímpar,
Nasceu rodeado de mais dois,
Naqueles idos tempos, não era rarear.
A emoção não se guardava para depois:
Ser trigêmeo era uma sensação,
Emocionava todo e qualquer coração,
Minha avó firme aguentou,
Foi podada na decisão.
Esperou mais, os criou.
Um fato inédito para o século passado... trigêmeos era raridade... e eles foram os trigêmeos mais velhos do Brasil há 9 anos ( meu pai,.o último a partir)... Quando nasceram cabiam numa caixinha de sapato, cada um...
II
Quase uma morte causticante.
Corte cruel fez em mim a vida...
Foi-se embora em meus bracos, tolhida!
Eu quase não acreditei, tombei rendida...
Tive também doloroso fim,
Naquele dia, esmagada,
Fui muito, na minha alegria, podada
Foi cortado um pedaço de mim.
Meu pai Amado faria 94 anos hoje...
Foi-se aos 85...
Era alegria grande o mês de maio para mim...
Filha e pai aniversariantes...
Mês de Maria...
Para o senhor, uma bacalhoada neste dia se fazia...
Tudo que o Senhor gostava, eu gosto...
Gosto de declamar poesias...
Emociono até, mas não como o senhor, meu pai... jamais!
Posto abaixo a que o senhor mais gostava e lacrimejava... emocionava...
Mas sei que está bem agora, Pai... Tenho certeza, toda tristeza se foi... digo em relação ao que o senhor não podia mudar, pois a alegria e seu humor nordestino nunca se extinguiram...
Ontem fotografei estes dois cães... pousaram para mim... imóveis...
Saudade de ti...
Seria festa hoje, pois a festa era o senhor!
Enquanto o senhor viveu, éramos eu e o senhor metidos numa jaula... podados...
Mas os laços do nosso amor que ninguém podia matar nos deixavam livres para voar pela força da imaginação...
Eu tive um cão. Chamava-se Veludo:
Magro, asqueroso, revoltante, imundo,
Para dizer numa palavra tudo
Foi o mais feio cão que houve no mundo
Recebi-o das mãos dum camarada.
Na hora da partida, o cão gemendo
Não me queria acompanhar por nada:
Enfim - mau grado seu - o vim trazendo.
O meu amigo cabisbaixo, mudo,
Olhava-o ... o sol nas ondas se abismava....
«Adeus!» - me disse,- e ao afagar Veludo
Nos olhos seus o pranto borbulhava.
«Trata-o bem. Verás como rasteiro
Te indicarás os mais sutis perigos;
Adeus! E que este amigo verdadeiro
Te console no mundo ermo de amigos.»
Veludo a custo habituou-se à vida
Que o destino de novo lhe escolhera;
Sua rugosa pálpebra sentida
Chorava o antigo dono que perdera.
Nas longas noites de luar brilhante,
Febril, convulso, trêmulo, agitado
A sua cauda - caminhava errante
A luz da lua - tristemente uivando
Talvez tenham razão estes senhores.
Toussenel: Figuier e a lista imensa
Dos modernos zoológicos doutores
Dizem que o cão é um animal que pensa:
Talvez tenham razão estes senhores.
Lembro-me ainda. Trouxe-me o correio,
Cinco meses depois, do meu amigo
Um envelope fartamente cheio:
Era uma carta. Carta! era um artigo
Contendo a narração miúda e exata
Da travessia. Dava-me importantes
Notícias do Brasil e de La Plata,
Falava em rios, árvores gigantes:
Gabava o steamer que o levou; dizia
Que ia tentar inúmeras empresas:
Contava-me também que a bordo havia
Mulheres joviais - todas francesas.
Assombrava-me muito da ligeira
Moralidade que encontrou a bordo:
Citava o caso d’uma passageira...
Mil coisas mais de que me não recordo.
Finalmente, por baixo disso tudo
Em nota breve do melhor cursivo
Recomendava o pobre do Veludo
Pedindo a Deus que o conservasse vivo.
Enquanto eu lia, o cão tranquilo e atento
Me contemplava, e - creia que é verdade,
Vi, comovido, vi nesse momento
Seus olhos gotejarem de saudade.
Estendeu-se a meus pés silencioso
Movendo a cauda, - e adormeceu contente
Farto d’um puro e satisfeito gozo.
Passou-se o tempo. Finalmente um dia
Vi-me livre d’aquele companheiro;
Para nada Veludo me servia,
Dei-o à mulher d’um velho carvoeiro.
E respirei! «Graças a Deus! Já posso»
Dizia eu «viver neste bom mundo
Sem ter que dar diariamente um osso
A um bicho vil, a um feio cão imundo».
Gosto dos animais, porém prefiro
A essa raça baixa e aduladora
Um alazão inglês, de sela ou tiro,
Ou uma gata branca sismadora.
Mal respirei, porém! Quando dormia
E a negra noite amortalhava tudo
Senti que à minha porta alguém batia:
Fui ver quem era. Abri. Era Veludo.
Saltou-me às mãos, lambeu-me os pés ganindo,
Farejou toda a a casa satisfeito;
E - de cansado - foi rolar dormindo
Como uma pedra, junto do meu leito.
Praguejei furioso. Era execrável
Suportar esse hóspede importuno
Que me seguia como o miserável
Ladrão, ou como um pérfido gatuno.
E resolvi-me enfim. Certo, é custoso
Dizê-lo em alta voz e confessá-lo
Para livrar-me desse cão leproso
Havia um meio só: era matá-lo
Zunia a asa fúnebre dos ventos;
Ao longe o mar na solidão gemendo
Arrebentava em uivos e lamentos...
De instante em instante ia o tufão crescendo.
Chamei Veludo; ele seguia-me. Entanto
A fremente borrasca me arrancava
Dos frios ombros o revolto manto
E a chuva meus cabelos fustigava.
Despertei um barqueiro. Contra o vento,
Contra as ondas coléricas vogamos;
Dava-me força o torvo pensamento:
Peguei num remo - e com furor remamos
Veludo à proa olhava-me choroso
Como o cordeiro no final momento,
Embora! Era fatal! Era forçoso
Livrar-me enfim desse animal nojento.
No largo mar ergui-o nos meus braços
E arremessei-o às ondas de repente...
Ele moveu gemendo os membros lassos
Lutando contra a morte. Era pungente.
Zunia sempre na amplidão profundo.
E pareceu-me ouvir o atroz lamento
De Veludo nas ondas moribundo
Mas ao despir dos ombros meus o manto
Notei - oh grande dor! - haver perdido
Uma relíquia que eu prezava tanto!
Era um cordão de prata: - eu tinha-o unido
Contra o meu coração constantemente
E o conservava no maior recato
Pois minha mãe me dera essa corrente
E, suspenso à corrente, o seu retrato.
Certo caíra além no mar profundo,
No eterno abismo que devora tudo
E foi o cão, foi esse cão imundo
A causa do meu mal! Ah, se Veludo
Duas vidas tivera - duas vidas
Eu arrancara àquela besta morta
E àquelas vis entranhas corrompidas.
Nisto senti uivar à minha porta.
Corri, - abri... Era Veludo! Arfava:
Estendeu-se a meus pés, - e docemente
Deixou cair da boca que espumava
A medalha suspensa da corrente.
Fora crível, oh Deus? - Ajoelhado
Junto do cão - estupefato, absorto,
Palpei-lhe o corpo: estava enregelado;
Sacudi-o, chamei-o! Estava morto.
(Luís Guimarães)
Eu estive a seu lado no leito do hospital e faleceu em meus braços... lhe agradeci por tudo... não sabia se falava ou chorava... falava em tom alto n]ao porque sabia que ele me ouvia no seu segundo final... e sim porque não me continha... para mim, era só ele e eu...
Nesta manhã, onde amanheci amada no coração, embora nem houvesse ainda me dado conta do dia...
Depois deste refletir todo acima, uma frase sobre um outro tipo de poda com esta imagem da tesoura que nos foi dada a criar algo que nos inspirasse.
III
Numa manhã de inverno frio, me lançou
Deus, de uma barriga sofrida, me podou,
Segurou-me em sua santa Mão.
Vim a este mundo, a esta lida,
Para ser por Ele ser muito querida,
Não posso deixar de ser-Lhe grata,
Sei que sou por eles muito amada.
Tudo unido num coração de pai. Ai!
Um santo em vida, como deve ser!
Ser órfã de pai presente e amoroso dói demais...
(Túnel do tempo...)
Herdei dele o gosto por cachorros... Ele tinha um cavalo também... antes de comprar sua primeira rural azul...
(Rosto da bondade e da paciência)
Obrigada por ter me ensinado o que é o Amor... o senhor amou pelos dois... me amou pelos dois...
Obrigada também porque dois dias após sua partida foi transportado meu primeiro blog para aqui para tentar aliviar meu coração esmagado pela dor da terrível poda... inesquecível!
Rosélia, quanto amor impregnado nos teus versos. Essas podas...sempre dificeis de entender, ganham um pouco de compreensão conforme o tempo vai passando.Mas o que foi vivido, amado, não se poda, esse tesouro fica conosco para sempre. Bjs
ResponderExcluirInstigante história do Veludo! E é uma data de saudade. Dolorosas as podas assim que a vida nos faz! beijos, chica
ResponderExcluirVô Pedro! Pouco tempo conheci mas sua doçura e simplicidade foram contagiantes.
ResponderExcluirUma imagem para renascer tantas lembranças, que no tempo nunca se apagam e crescem como as plantas no jardim da vida sempre bem cuidada pelo Jardineiro Maior. Bonita participação com emoções à flor da pele. Devemos cuidar bem do nosso jardim querida amiga, para que seja admirado por todos quantos se acercarem de nós.
ResponderExcluirUma grande e rica postagem com emoção.
Um bom e belo fim de semana com paz no coração.
Beijo de paz e que esteja sempre bem.
Meu terno abraço.
Boa noite, Roselia
ResponderExcluirA perda de um ente querido dói e machuca.
Postagem emocionante, querida .
Um beijinho carinhoso de
Verem e Bichinhos .
Roselia, sua participação sempre muito cheia de significados e de ternura!
ResponderExcluirAbraço, bom final de semana!
Sonia
Boa tarde minha Amiga,
ResponderExcluirUm relato poético emocionante do quanto era grande o amor que unia você e seu saudoso e amado pai!
Sofri essa poda recentemente e por vezes ainda penso que estou sonhando!
Mas seu pai e o meu repousam agora o eterno descanso nos braços do Pai!
Beijinhos e terno abraço.
Ailime
Deus cultiva suas preciosas flores com muito amor...mas como excelente Jardineiro, sabe que de vez em quando precisa podá-las para que vicejem com mais força e robustez. A alma se engrandece a cada obstáculo vencido...e assim vamos descobrindo que temos virtudes adormecidas em nós e, mais importante que exterminar nossos defeitos, precisamos fortalecer nossas virtudes.
ResponderExcluirQue Deus a ilumine e proteja sempre.
Bíndi e Ghost
Que linda postagem, amiga, pura emoção! Meu relacionamento com meu pai era semelhante, ele faleceu aos 84 e nesse mês, 15 de maio!
ResponderExcluirCompreendo você tão bem!!! Conheci o mesmo carinho, o mesmo amor, a mesma proteção. Está guardado do 'lado esquerdo do peito', onde nunca lhe acontecerá nada. Só tem amor.
Beijo grande!